domingo, 2 de setembro de 2007

O Xistrema

Uma das coisas que me merece habitualmente concordância nos escritos de Leonor Pinhão e Miguel Sousa Tavares nas páginas d' A Bola tem a ver com o seguinte: apresentando-se sempre como o bom da fita, vestindo estilo diferente que assente a um paladino da verdade desportiva quase elevado à categoria de anjo na terra, o Sporting é um dos clubes mais beneficiados pelas arbitragens apesar de passar a vida a espernear gritando o contrário. Dito à minha maneira e em português corrente: rouba tanto como os outros dois (ou mais...), pelo que talvez já se justificasse que a douta equipa da magistrada Morgado abrisse um "apito verde" que, estou certo, também teria muito que apitar.
Feito o intróito, deixem-se umas considerações sobre o jogo de Alvalade propriamente dito - isto, é claro, enquanto o senhor Xistra entendeu que poderia haver jogo. O Belenenses apresentou-se bem - até a vestir, com o equipamento com que deveria jogar sempre que possível! -, sabendo desde logo resistir a um dos pontos mais fortes do Sporting: os primeiros dez/quinze minutos de grande consistência com que normalmente tenta resolver rapidamente os jogos em casa. Passado esse período, e com Hugo Alcântara a estrear-se em bom plano apesar de não estar rotinado com os seus companheiros, o Belém - com Costinha seguríssimo - teve à sua disposição a melhor oportunidade de golo da primeira metade, aos 43 minutos, num tiro de Ruben Amorim que embateu na trave. Curiosamente, levava o jogo apenas quarenta segundos volvidos sobre o intervalo e é novamente o Belenenses a estar à beirinha do golo, com Zé Pedro a atirar de cabeça por cima da baliza. Dos 52 minutos em que Xistra permitiu que houvesse futebol, registo igualmente três ou quatro pontos específicos:

1. A inegável capacidade e garra de Gabriel Gavillán permite a Ruben Amorim aventurar-se no terreno, mesmo com a equipa a esboçar um 4x2x3x1; uma aposta de Jesus que me parece muito bem conseguida e que poderá vir a mostrar-se muito útil em momentos decisivos da época - nomeadamente em Munique.
2. A defesa azul voltou a mostrar-se em bom plano e a reafirmar que não haverá muitas equipas capazes de colocar o adversário em off-side com idêntica eficácia. E, sobretudo, parece-me que os laterais recuperaram a capacidade de subir no terreno, nomeadamente Alvim, o que inegavelmente fortalece o nosso jogo colectivo e a sua capacidade ofensiva.
3. Zé Pedro parece ter lugar cativo no onze, apesar de estar manifestamente abaixo das suas capacidades. Bem sei que é sempre útil nas bolas paradas onde poderá fazer a diferença, mas - para este treinador de bancada que assina estas linhas -, teria ficado no balneário ao intervalo.

E pronto. Corriam os 52 minutos quando o inevitável Liedson - um dos maiores vigaristas que já vi nos relvados portugueses -, de braço dado com o Xistra, resolveram terminar um jogo que vinha sendo interessante. Defraudando os 32.266 espectadores, o levezinho resolveu atirar-se para cima de Costinha - que vinha fazendo exibição irrepreensível -, e o árbitro, em consonância com o futebol português no seu melhor, não apenas apontou a marca da grande penalidade (superiormente defendida, duas vezes, por Marco Gonçalves), como resolveu expulsar Costinha quando, como é evidente, não só deveria ter marcado falta contra o Sporting como, em acrescento e conformidade com as leis do jogo, haveria de ter exibido um amarelo ao piscineiro lagarto. Ou seja: uma enorme vigarice que condiciona os restantes minutos sobre os quais nada há a dizer. A partir daí, os nossos rapazes foram uns heróis que quase "matavam o borrego" apesar das circunstâncias.
Dos tais 52 minutos, ficam boas impressões para o futuro numa equipa que está ainda em construção. Naturalmente, estas coisas levam o seu tempo mas creio que, descontando os Xistras deste mundo, há bons motivos para olhar o futuro com confiança.