Reformas essenciais
Na sua edição de ontem, publicou A Bola uma interessante entrevista com Rui Pedro Soares, membro da Comissão Executiva do grupo Portugal Telecom. No trabalho em causa, o responsável da PT - que, recorde-se, é um dos mais relevantes patrocinadores do futebol luso - aborda com algum detalhe os insucessos de bilheteira do futebol português apresentando alguns dados sobre os quais valerá a pena reflectir e que de certo modo poderão ser resumidos nos seguintes pontos:
1. Se analisarmos as assistências em Portugal e em Inglaterra e as dividirmos pela população, as percentagens são praticamente equivalentes: 0,25% no caso inglês; 0,28% no nosso;
2. Em 2005/06 venderam-se 3 milhões de bilhetes para o futebol contra 17 milhões de bilhetes para o cinema; o cinema tem 6 vezes mais espectadores quando o futebol desperta muito mais paixões;
3. A televisão potencia o espectáculo, ao invés de afastar público.
Isto para concluir pela urgente redução do preço dos bilhetes "a não ser que o que interesse seja mesmo ter estádios vazios" (sic). O primeiro ponto ainda me recorda uma outra contabilidade sobre a qual um amigo meu, lagarto do piorio, costumava divagar: os nossos estádios têm capacidade para tantos espectadores como os estádios espanhóis, o que seria óptimo não se desse o caso de eles terem quatro vezes mais população... E ainda poderíamos acrescentar a estas variáveis a questão do rendimento dos portugueses, que lamentavelmente nada tem a ver com os preços praticados pelos lusos emblemas.
Se esta é matéria importante para os clubes portugueses (e, evidentemente, para os seus patrocinadores), no caso do Belenenses a coisa assume proporções de ainda maior relevância tal é a limitação das nossas assistências, o que ficou demonstrado com especial crueldade na recepção ao Bayern de Munique. A mim, confesso, custa-me a crer que aparentemente ninguém veja que praticamos preços obscenos para a realidade da esmagadora maioria das bolsas portuguesas e para as condições que oferecemos - tanto mais que não vivemos das receitas de bilheteira.
É urgente voltar a levar público ao Restelo - os emblemas não subsistem sem adeptos! -, mas é urgente reconquistar o potencial existente sabendo de ciência certa que nem há medidas milagrosas nem existem políticas de fundo que possam dar frutos em meia dúzia de dias. A persistência e a paciência devem caminhar a par de uma urgente política de redução do preço dos bilhetes. Antes que seja demasiado tarde.