A um ponto do quinto lugar
Não sei bem por onde começar - se por Pedro Henriques, se pela extraordinária vontade que os nossos jogadores demonstraram ontem à noite em Braga. Enfim, talvez nem valha grandemente a pena perder muito tempo com um cavalheiro que não vê uma grande penalidade tão evidente que até Nosso Senhor Jesus Cristo a lobrigou, tão alto que foi levantada a mão do defensor bracarense. E que dizer da não expulsão de Paulo Santos, o já habitualmente trauliteiro guardião da pedreira que apelidou o sr. Henriques de todos os adjectivos possíveis e imaginários a ponto de me não ter deixado nenhum livre para que eu adjectivasse estas linhas? Adiante, que é este o mesmo artista que já foi capaz de nos roubar (o termo é justamente esse) três grandes penalidades num só jogo face ao clube do seu coração, para se penitenciar dias depois, já com o furto consumado.
Falemos então de gente séria. Gostei muito, desde o primeiro minuto, da atitude do Belenenses. A estrutura não inventou, os craques sabiam exactamente qual o seu papel, ao adversário não era concedido o espaço que costumamos oferecer no Restelo. A tudo isto, que não é pouco, pareceu juntar-se um querer inabalável, uma vontade notória de trazer três pontos para Belém. Para dedicar a vitória a alguém em especial? Nunca saberemos.
A coisa correu bem e, sabendo aproveitar o nervosismo dos locais e do seu público, a equipa foi-se mostrando - tacticamente a fazer lembrar as deslocações da época passada. No segundo terço do jogo, que incluiu um oportuno golo de Rolando, o Belenenses trocou a bola com à vontade, congelando o querer da equipa da casa. E assim teria muito possivelmente terminado a contenda, não fosse um golo de Linz, matador por natureza, na sequência de um lance em que há duplo azar do nosso sector defensivo. E foi a partir daí, só então, que se sentiu alguma tremideira no nosso sistema de jogo, mas que ainda assim foi sendo capaz de sair a jogar criando perigo.
Creio que valeu sobretudo o colectivo, assente num quarteto defensivo em que todos merecem destaque (Cândido Costa teve um ou outro momento em que queria ganhar o jogo tanto como eu!), mas em que mais uma vez nosso meio-campo mostrou o que já sabemos: quando o Belenenses resolve trocar a bola com alguma tranquilidade para além de pressionar a sério quando defende, não é qualquer equipa que nos trava. A nota menos positiva vai mais uma vez para a dupla ofensiva e apenas pela falta de eficácia - embora Roncatto pareça, desde há alguns jogos, querer mostrar que sabe vir ao meio, ou buscar jogo um pouco atrás. Apesar de tudo e das contingências conhecidas, temos mercado por mais uma semana e um ponta de lança era muito bem recebido. Tanto mais que Meyong é carta fora do baralho e que João Paulo não mostra capacidade de se impôr como opção relevante desde já e perante a equipa técnica. No meio de uma equipa que valeu muitíssimo pelo colectivo, ouso destacar Zé Pedro: se não me falha a contabilidade (e se falhar, por estes dias, tenho desculpa...), este foi o seu centésimo jogo. E isso não é para todos! Que receba a prenda correspondente em forma de ovação e já na próxima jornada, selando a vitória azul no clássico lisboeta que se segue. Jogando assim... é "sem espinhas".
E remato então com a tradicional "vaca fria": qual a razão de não jogarmos sempre assim? A verdade é que, com ou sem os tão alvitrados 6 pontos - no momento em que escrevo temos 23 e estamos a 1 ponto do 5º lugar, o objectivo assumido por Jorge Jesus esta semana, em pleno "furacão" -, se jogarmos sempre com a atitude demonstrada em Braga é possível regressar à UEFA porque temos equipa e habilidade para isso. O resto é conversa fiada para entreter os adversários do Belenenses.