quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Sobre a demissão da direcção

Sem me alongar muito sobre um tema que tem tido muitos análises nas caixas de comentários dos blogues azuis, em especial do deste amigo, deixo algumas notas sobre aquilo que penso a propósito da demissão de Fernando Sequeira da direcção do Belenenses (escusado dizer que estas opiniões não são necessariamente as mesmas das dos meus colegas de blogue):
1) Não votei em Fernando Sequeira. Aproveitando-se do estado de saúde de Cabral Ferreira e do "caso Meyong" certas pessoas na prática promoveram um golpe palaciano conduzindo a eleições antecipadas.
2) Por motivos não muito claros, foi definido que o mandato do futuro presidente seria de apenas um ano.
3) Tal facto desmotivou e desmobilizou potenciais candidatos à excepção do ex-administrador da CGD.
4) FS cedo se incompatibilizou com Jorge Jesus, o que pode ter resultado de falta de tacto por parte daquele como pelo facto de JJ já ter destino traçado e ter aproveitado um pretexto para mais facilmente rumar a Braga.
5) Desde cedo houve rumores de que a direcção de FS tinha interesses imobiliários relacionados com o espaço do nosso complexo desportivo. As declarações de João Neves ao Record reforçam essa ideia, embora no Belenenses seja sempre muito difícil perceber-se quem é que fala a verdade.
6) A construção do plantel de futebol foi um "case study" de impreparação, falta de planeamento - e provavelmente o resultado de interesses inconfessáveis, que passariam por empresários e eventuais pagamentos irregulares: a chegada de quase duas dezenas de brasileiros, desconhecedores do nosso futebol, de qualidade muito variada (mas nunca passando do mediano para um clube que tem aspirações à UEFA) a par da dispensa de jogadores de valor como Amaral, Hugo Leal ou Gonçalo Brandão assim o comprova.
7) O fim da secção de basquetebol é uma decisão grotesca. Se há problema grave nas modalidades ele reside no andebol (e digo-o com muita mágoa pois é modalidade da minha afeição e já em pequeno aprendi a admirar Zé Manel, Espadinha, Hernâni e outros craques); se FS estava empenhado em controlar os desmandos financeiros do clube teria que ter começado pelo andebol; o Belém tem miúdos com valor e se calhar o plantel teria que ser constituído quase em exclusivo por eles; apostava-se no futuro, reduziam-se os custos por um período mínimo de três anos, não se correndo sequer o risco de descida de divisão.
8) O pretexto para a demissão é, como dizem os brasileiros, pífio. Como é que alguém que ambiciona liderar o quarto clube português (em historial e ecletismo, pois noutros aspectos e em resultados desportivos recentes o clube não merece esse título) se pode amedrontar ou vexar pelos insultos de meia dúzia de pessoas? Será que FS não conhece o clube e alguma das suas peculiaridades? E quantos outros presidentes já aguentaram tanto ou pior, no Belém como noutros emblemas?
9) Podendo-se discordar da forma, os protestos dos sócios são legítimos perante uma gestão desportiva desastrosa. A direcção semeou o que colheu: incúria, ignorância, impreparação. Pode haver interesses ocultos (ligados provavelmente a vários elementos do Conselho Geral) na promoção destes protestos e eu serei o primeiro a condenar as manobras dessa espécie de sociedade secreta belenense. Da mesma forma que na sexta-feira aplaudi os nossos jogadores, muitos deles fracotes, pois fizeram o que sabem e deram o litro até ao último minuto (conseguindo minorar os estragos) compreendi a indignação de muitos sócios no final do jogo. (Já quanto aos que aplaudiram o segundo golo de William sugeriria que o sr. Fiúza ou o sr. Valentim lhes atribuíssem emblemas de sócios de mérito dos respectivos clubes.)
10) Mais uma vez o clube encontra-se numa encruzilhada: romper com práticas viciadas ou persisitir na paz podre e na instabilidade constante. Romper não significa apostar tudo no futebol e atacar o ecletismo: significa gestão de rigor em todas as fentes (em termos financeiros e desportivos), criação de condições para a prática desportiva, modernização da comunicação e promoção de imagem do clube, políticas de angariação de sócios eficientes e duradouras. Se calhar dois anos não é tempo suficiente para conseguir tudo isso, sabendo-se das guerras que qualquer direcção determinada vai "ganhar". É uma questão também a merecer reflexão por todos os que amam o Belenenses e que acreditam que o clube pode voltar a ser grande.