Contas da SAD: Ricardo Schedel na primeira pessoa
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Como prometido aqui estou para explicar cabalmente o que se passou na AG e os números referentes ao exercício anterior.
Para se perceber melhor, envio em anexo os valores apresentados nas Contas e no Orçamento (porque a maioria de vós não tendo ido à AG não os receberam). Orçamento que não chegou sequer a ser votado, porque não fazia sentido votar um orçamento de uma direcção demissionária.
Em anexo vai também a intervenção que tinha preparado para a AG. Acabei por não ler exactamente o que lá estava e já explico porquê.
Aberta a sessão, falou o Eng. FS, para explicar porque se tinha demitido. Primeiro falou nas ameaças e depois disse que se tinha demitido porque a SAD estava num caos, repetindo as mentiras habituais e as meias-verdades (porque é muito fácil dizer uma série de coisas bombásticas, não explicando as razões porque elas aconteceram). Depois falou o Dr. Jaime V. Freitas que repetiu e repisou tudo o que o FS tinha dito: que a anterior administração tinha dito que estavam na SAD 3 milhões de euros, que não havia dinheiro para pagar os ordenados de Março (que todos sabem que nos clubes de futebol se pagam a dia 10/dia 20, e até que se poderia atrasar um pouco mais, porque seria a primeira vez esse ano, mas isso não disse) e mais uma série de desgraças, todas elas falsas (ou, vá lá, sendo simpático semi-falsas).
Como podem calcular, fiquei indignado – em primeiro lugar, pela lata de estarem a justificar a fuga com a SAD, 5 meses depois de lá terem estado e de terem já usado esse argumento para o empréstimo, em segundo lugar pelo rol de mentiras e falsidades que estavam a ser ditas. O sumo era muito simplesmente este: a SAD estava num caos (mas curiosamente não havia salários em atraso, nem o PEC estava atrasado), SAD essa que eles tinham vindo salvar, com os seus brilhantes dotes de gestão. Os meus amigos têm as contas do Passivo em 31/3 e 30/6. Qual é menor: o Passivo a Curto Prazo em 31 de Março, ou em 31 de Junho? E o Passivo a Curto Prazo em 41 de Março estava ou não coberto por aquilo que tinhamos a receber de Clientes? Tanta mentira é óbvio que indigna.
E, com a indignação, não fui capaz de seguir o guião que tinha preparado, que era para ser lido serenamente. Disse o que tinha preparado, até porque sabia aquilo de cor e salteado, mas com muito mais veemêcia e indignação.
E depois vieram as explicações (algumas, pois as perguntas mais importantes ficaram sem resposta) e percebi o argumento daquelas cabeças: não se fazem as facturas ao Clube, anulam-se os juros e não se manda um tostão para a SAD (depois até mandaram, mas como se fosse um grande favor, para tapar os buracos dos bandidos anteriores), porque o Clube coitadinho é pobrezinho. Juro que foi esse o argumento. O Dr. Gouveia da Veiga, que eu pensava que era mais esclarecido, tem esta tirada brilhante, quando me queixei dos malabarismos de tesouraria que tive de fazer por não receber um tostão do que estava programado: “ Mas o senhor não vê que o Clube não tem dinheiro?”
Conclusão: não se factura o que está contratado, porque coitadinho o Clube é pobrezinho, anulam-se os juros, porque coitadinho o Clube é pobrezinho, não se manda um tostão do que está programado, porque coitadinho o Clube é pobrezinho. Mas sabem o melhor? O João Barbosa revelou que para esta época (e agora já não podem dizer que é o Cabral Ferreira) estão orçamentados para as modalidades 2 milhões de euros! O clube, coitadinho que é pobrezinho, não pode mandar nada para a SAD (e fica com a quotização toda, com as receitas da publicidade do estádio, etc., etc.), mas pode gastar 2 milhões com as 652 modalidades.... A explicação para o “roubo” da facturação e dos juros estava dada: o Clube, coitadinho, é pobrezinho. Passa-se por cima dos accionistas da SAD que não são sócios do Clube, mas, que remédio, o Clube, coitadinho, é pobrezinho.
Vamos agora à famigerada Provisão – em primeiro lugar, foi-me dito off de record, que esta provisão é um exagero, que não tem razão de ser. Mas, mais importante: o ROC confirmou, com todas as letras, que o certo era levá-la a Resultados Transitados e nunca aos Resultados deste exercício. Quando os confrontei com isso, sabem qual foi a resposta? “ Sim, está bem, mas isso são questões técnicas, que não interessam nada”. Ai não? A SAD ficaria muito mais forte e prestigiada se desse lucro; é isso que vem nos jornais, é isso que as pessoas que estão de fora lêem. Foi-me ainda dito – mais uma vez off de record – que só tinha sido lançada assim, porque, para o ano, quando fosse anulada, será mais fácil o movimento contabílistico, sem a chatisse de se ter de mexer nos Resultados Transitados, dando-me razão nos dois coelhos com uma cajadada...
Julgo que ninguém de boa-fé tem dúvidas: o exercício anterior deu lucro. Mas isso não interessa aos fugitivos, nem ao Conselho Geral que os apadrinhou. Então os fugitivos, que lá foram postos como os salvadores da pátria dão à sola e ainda por cima a administração do Cabral Ferreira, que o Conselho Geral desde o princípio boicotou, apresenta contas como nunca foram apresentadas? Não podia ser. O Cabral Ferreira até podia ter cobertgo o estádio de ouro que ainda assim aquelas almas nunca lhe iriam perdoar. Só um parenteses: no exercício de 2005/2006 fomos (eu e o CF) substituir o Barros Rodrigues (contra quem não tenho nada e que até acho que tem qualidades, noutras áreas), que tinha sido imposto pelo CG à frente da SAD. Opa o Barros Rodrigues deixou um buraco monumental de mais de 4 milhões de euros (que nós conseguimos atenuar com as vendas à pressa do Pelé e do Meyong), com salários em atraso de meses, e tinha contratado aqueles brilhantes jogadores que nos meteram na segunda divisão (não fosse o inenarrável Fiuza). Agora lá está ele, mais uma vez apadrinhado pelo CG, como o grande salvador da pátria.
Volto a repetir: a ninguém ficou dúvidas que o exercício deu lucro. Mas ao CG reconhecer isso não interessava. E quando percebi isso, desisti. Como podem ver, se tiveram a pachorra de ler o meu papel até ao fim, eu no fim do mesmo tinha uma exortação para que não fossem aprovadas as contas. Em qualquer empresa normal teria sido assim. Mas numa AG dominada pelo CG e pelo ódio inexplicável e vesgo ao CF nunca a razão iria triunfar. Por isso nem li essa parte. E, assim, até porque o Clube tem a maioria, as contas lá foram aprovads, com os votos contra de eu próprio (como é evidente) e do meu amigo Salema Garção e, vá lá, com algumas abstenções.
E pronto, o que daqui fica são umas contas com prejuízo, sem qualquer respeito pela honra das pessoas, mas pior do que isso, sem qualquer respeito pela SAD, que poderia ter saído reforçada e prestigiada. E outra coisa também ficou clara. O CF e eu queríamos uma SAD forte com orçamentos cada vez maiores, porque é um ciclo vicioso. Orçamentos altos dão para comprar bons jogadores, que depois se podem vender com lucro e aumentar no futuro o orçamento da SAD. É assim que todos os clubes crescem. Mas não: o que é bom é orçamentos baixinhos, sem o Clube dar nada (porque, assim, como é que pode alimentar as 652 modalidades?). E desta forma se vai matando o futebol no Clube. Pobretes, mas alegretes. Com uma gestão de há dois séculos atrás, com uma gestão de manga de alpaca. Compram-se brasileiros ao contentor que depois ninguém quer. A isso chamo deitar dinheiro à rua. Podíamos, perfeitamente, ter ficado com o Gonçalo Brandão, com o Devic e com o Hugo Leal, por exemplo. Não, o que é bom é o Carciano, o Rodrigo Arroz e o Maikon, que até custam mais caro. O FS revelou que tinha recebido 2 propostas por 2 jogadores, uma delas firme, de 1 milhão e meio por um jogador, proposta que ele recusou. Ele não revelou o nome mas eu até sei quem é. Não, não é um dos milhões de brasileiros que ele comprou. É um dos que foram comprados por nós. Se não tivessem sido vendidos o Rolando e o R. Amorim, tinhamos, com o é patente, outras alternativas para equilibrar as contas. A isto chamo eu boa gestão de uma SAD. Mas deve ser engano meu...
Um dos pontos que tem sido muito focado é o dos custos (os célebres 11 milhões). Vamos a eles. Olhem bem para a Demonstração de Resultados. Retirem-se as Provisões (que estão lá abusivamente), as Amortizações e os Custos Extraordinários (que têm a ver com a anulação dos juros, por exemplo, e outros acertos relativamente a Exercícios Anteriores). Nenhuma destas rúbricas representa dispêndio de dinheiro e, obviamente, não contam – são meras contas contabilísticas. Esqueçam-se também os Custos Financeiros. Quer estes, quer parte dos Custos Extraordinários (as coimas pagas por atraso em alguns impostos) têm a ver com a falta de liquidez pelo dinheiro que tinha de vir do Clube e não veio. É óbvio que tivemos de ter alguma imaginação na tesouraria e algumas coisas tiveram de ficar para trás – e isso custou dinheiro, como é evidente. O que é que sobra? Fornecimentos e Serviços Externos e Pessoal. Quando os outros clubes falam nos seus orçamentos é nisso que falam ( e alguns nem isso, pois consideram só os salários e nem seguer incluem a Segurança Social). Ora nos Fornecimentos e Serviços Externos (3.148 mil euros) estão incluídas as comissões pagas a empresários (1.183 mil, como se pode ver no Orçamento). Mas ao contrário do que lá está, essas comissões não são na aquisição de jogadores. Comprar jogadores é fácil: hajam cassetes e contentores para os trazer do Brasil. Dado o excesso de oferta, o que é difícil é vender: E essas comissões têm a ver com as vendas. Por isso, até o mais correcto era deduzi-las dos valores das vendas. Se retirarmos isso, ficam cerca de 1.900 mil euros. Este valor não há como baixá-lo: são as viagens, os estágios, as inspecções médicas, etc., etc. (e este ano até foram mais altas pois tivemos os custos da ida a Munique). São, no fundo, as despesas necessárias a termos uma equipa a competir. Resta, portanto, olhar para os custos com o Pessoal. Esse é que é na verdade o orçamento da SAD. Esse é o célebre orçamento que vai para a Liga. Quando se diz que o Clube A tem x de orçamento e o clube B tem y é nisso que se está a falar. È o tal dos 6,6 milhões, que nós até conseguimos que fosse mais baixo (o Dr. Jaime Vieira de Freitas teve de confessar que o Orçamento que mandou para a Liga era de 5 milhões – comparem com o que ele apresentou depois).
Reparem agora: nós, com uma equipa muito razoável, com jogadores vendáveis, como se comprovou, gastámos 5.819 mil euros; eles, com uma equipa de coxos, apresentam um orçamento de 5.200 mil euros. Valem, ou não valem a pena os 600 mil euros de diferença?
Como disse, o CF e eu apostámos numa equipa cada vez mais forte, com jogadores vendáveis para poder reforçar a equipa no futuro e ir, assim, crescendo pouco a pouco. Mas com os pés na terra, pois cobrimos sempre os custos com os proveitos. É assim que se conseguem mais assistências e mais sócios. E ainda fomos penalizados em custos financeiros e em coimas, porque, como o Clube, coitadinho, não nos dava um tostão, tivemos de deixar coisas para trás e arcar com os custos disso. Mas nisso ninguém fala.
E pronto: o que é bom, mesmo, é um orçamento baixinho, porque o Clube não pode dar nada, para alimentar as 652 modalidades, e, como não temos a Câmara por detrás (como o Braga e o Guimarães, e em geral clubes do Norte), como não temos empresas que nos dêem algum, como não temos o Governo Regional (como os clubes da Madeira), como não temos sequer a Câmara a fazer uma manigância com os terrenos (como o Setúbal) a nossa sina é ir descendo, descendo até estarmos a lutar com o Odivelas ou o Atlético. É isso que o CG quer. E curiosamente, e de uma maneira muito desapontadora par mim, é o que o Gouveia da Veiga quer. Aliás, o Gouveia da Veiga ainda queria mais: como a SAD ganhou dinheiro e tem o Passivo pago, deveria ter ido ajudar o Clube, não percebi muito bem se mandando para lá dinheiro. Por isso, senti-me naquela AG a pregar no deserto.
Termino aqui a minha colaboração a nível directivo com o Clube. Eu estive lá há 15 ou 16 anos – primeiro como responsável pelo acabamento das piscinas, que eram um buraco (no sentido literal da palavra, porque era um buraco o que lá estava); e no sentido figurado, porque havia uma dívida monumental para com o empreiteiro, por quebra de contrato e que teríamos de pagar em tribunal. Depois como Vice-Presidente Administrativo e Financeiro (sim, fui eu que inventou há 15 anos os malfadados autocolantes das quotas – mas vocês nem queiram saber o que havia antes...). Depois afastei-me, apenas com algumas “comissões de serviço” (sim, fui eu também um dos feitores dos actuais estatutos – mas, naquela alura foi considerado um grande feito e elogiado por todos). Veio o CF, e depois de muita insistência lá aceitei mais uma vez fazer parte da Direcção. E foi a maior decepção da minha vida. Pensava eu que ia encontrar um Clube organizado, moderno, pronto a enfrentar o futuro. Mas o que é que eu vi, logo na primeira reunião para a distribuição de pelouros? As n quintas e quintinhas. Era eu com a parte financeira, a Ester Monteiro com a Comunicação, e depois era: tu com o basket, tu com o andebol, tu com o futsal e assim por diante. Não havia ninguém para reestruturar e modernizar o Clube, para implementar as muitas coisas que têm sido ditas nesta ML e que são indispensáveis. Muito gritei e berrei eu contra este estado de coisas, e tenho muitas testemunhas que o podem comprovar. A começar logo pelo site. Então um clube de futebol tem um site em que na página pricipal 90% das notícias são sobre modalidades e lá aparecem de vez em quando, como que envergonhadas, umas noticiazecas sobre futebol? Mas vi muito depressa que o mal estava de tal forma enquistado que seria muito díficil erradicá-lo. Vou só dar dois exemplos. Umdia, ao entrar no Clube, estava um “segurança” à porta, barrigudo e em camisola interior; mais acima estava um fogareiro a assar sardinas; e mais uma terceira coisa no género que já não me lembro. Entrei no gabinete do CF e disse-lhe: “Isto é a imagem do nosso Clube; já nem de bairro é”. Outro exemplo: um dia estava no gabinete do CF e entrou o seccionista do hóquei de sala a saber se para aquela época também havia o subsídio de 5.000 euros. Eu insurgi-me e disse-lhe: ”Subsídio? Vocês é que deviam pagar para jogar no Belenenses. Estão a usar o pavilhão, a gastar água e electricidade, fora tudo o mais e ainda querem um subsídio? Como disse, vocês é que deviam pagar?” E assim se acabou com o hóquei de sala (se calhar já voltou outra vez...). A minha grande crítica ao CF, e é uma grande crítica, é ele nunca ter sido capar de acabar com todas as quintinhas (leia-se cancros) dentro do Belenenses. Cada vez mais desiludido e disposto a sair no fim do meu mandato (porque não costumo abandonar as coisas a meio), veio a substituição do Barros Rodrigues na SAD e fui empurrado por toda a Direcção para acompanhar o CF. Depois foi a desgraça da descida e do caso Mateus. Aí empenhámo-nos até à última e lá ganhámos (aí o CG teve mais uma atitude vergonhosa – promoveu um jantar de homenagem ao Dr. Nelson Soares, merecidíssima aliás, mas deixando de fora o CF, que foi muito mais importante para a nossa vitória). Começou a época, a equipa lá começou a encarreirar e nós conseguíamos pagar os salários a tempo e horas. Disse ao CF, que se queria recandidatar, que não contasse comigo, pois não concordava com a política seguida no Clube (isso nunça me impediu de dar a cara pelas contas e de tentar fazer aprovar os Orçamentos da Direcção – e muitos insultos ouvi...). Disse-lhe também que com o 5º lugar e a ida à final da Taça o meu trabalho na SAD estava feito e que apresentaria a minha demissão quando fossem aprovadas as contas. Preparei a minha última tarefa no Clube, que foram as Contas e o Relatório de 2006. Julgo que nunca nenhum relatório foi tão completo como aquele. Tinha comparações dos últimos 5 anos do Activo, do Passivo, e sua evolução, dos Custos, do movimento de sócios (por categorias) e evolução da quotização, do número de praticantes por modalidade, da evolução do Bingo, etc. Quis deixar as pistas e os números para quem pegasse no Clube saber por onde deveria atacar primordialmente. E pronto, julgava eu que a minha missão estava cumprida. Afastava-me desiludido, mas que remédio.
Acontece que um dia o CF me chamou e me disse: “Ricardo, tenho 6 meses de vida. Não me vais abandonar agora.” E lá fiquei na SAD, até porque acreditava que a política que estavamos a seguir era a mais correcta e considerava o CF um extraordinário Presidente da SAD. Mas pus uma condição: receber todos os meses os 150 mil euros do Clube. Mas dá-se nessa altura a bronca do andebol (lembram-se?) e pediram-me paciência. E eu lá fui tendo paciência durante 9 meses sem ver um tostão...
E, apesar disso, conseguiu-se melhorar e fortalecer muito a SAD. Agora há duas opções para continuar:
1) Definir uma verba a dar pelo Clube, maior até do que a suposta actual, garantir que ela é religiosamente paga e o Clube fica com o resto (e ainda é muito). Se der para ter 500 modalidades, que tenha 500 modalidades; se der para ter só uma que tenha só uma; se não der para ter nenhuma, que não tenha nenhuma. E, se as modalidades rebentarem com os seus orçamentos, como sempre acontece, ou o Bingo deixe de dar tanto, o Clube que se amanhe e não esteja à espera que seja a SAD a resolver os seus problemas.
ou
2)Separa-se totalmente o Clube da SAD. Esta recebe a sua quotização, a sua publicidade, a sua quota parte das receitas do Bingo e joga onde for mais barato: se for no Restelo, tudo bem, se tiver de ser no Estádio Nacional, por exemplo, tudo bem também.
Ou então, que é pelos vistos o que querem, acaba-se de uma vez por todas com essa chatisse do futebol, que só causa problemas, que ainda por cima não ajuda o Clube, coitadinho que é pobrezinho, e que assim poderá criar mais umas tantas modalidades e ir para o Guiness como o clube mais eclético do mundo (com o berlinde, o lançamento do pião, ou, para ser mais sofisticado e pioneiro em Portugal, com aquela modalidade em que há uns tipos a atirarem uma espécie de rodelas numa pista de gelo e uns outros a varrerem à frente).
Saio sabendo que criei muitos anti-corpos e inimizades. Sei que fui até acusado de me ter aproveitado do Clube; logo eu que, apesar de ter entrada gratuita como dirigente, para além da quota azul ainda pagava as quotas suplementares para ajudar o Clube e que ainda sou um dos últimos “malucos” do Grupo dos Mil. Mas estou-me nas tintas. Sei que estou a sofrer por nunca ter abandonado o CF e por sempre ter dado a cara por ele. Tenho, por isso, a consciência tranquila. Eu que tinha saído com um grande prestígio há 15 anos, sei que dei muito mais agora do que naquela altura.
Deixo para vosso julgamento, este testamento do qual peço desde já desculpa, e os números que o acompanham. É o vosso julgamento, dos verdadeiros sócios do Clube, que me interessa.
Agora vou voltar ao que realmente gosto. Ver na bancado os jogos do meu Clube. Daqui a uns anos ainda lá estarei, velho caturra, a ver o Belenenses-Odivelas ou o Belenenses-Bucelenses e a comentar com os 5 ou 6 que ainda restam: “Lembram-se de quando este Clube era grande? Lembram-se do Matateu, do Vicente, do Yauca?”, ou “Lembram-se do Gonzalez e do Godinho? Que ala esquerda, hein?”, ou mesmo “Lembram-se do Meyong e do Dady? Não eram como os outros, mas ainda assim...”. Não me vou lembrar com certeza é do Alício Julião ou do Júnior Negão, que a memória (ou a falta dela) felizmente é caridosa.
Ou talvez nem isso possa fazer, porque o futebol já acabou finalmente no Clube e este pode ter o supremo orgulho de se chamar então Clube Eclético “Os Belenenses”.
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