quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Do tempo presente

Houve uma altura em que eu, ainda recém-refeito da adolescência, tinha a mania que um dia havia de dar cartas no Belenenses. Presidente - aqui o confesso - nunca pretendi ser, mas ter voto na matéria era sonho de miúdo que me perseguia. A coisa prosseguiu até que cresci, não me largou e, a dado passo, a oportunidade parecia poder concretizar-se, um pouco na sequência daquela que reputo como a mais lamentável Assembleia Geral de sempre da História do Belenenses, aliás inferiormente dirigida pelo então presidente da Mesa Alberto Regueira. Meses volvidos e experimentada a (quase) campanha eleitoral, deixei-me disso: era muito baixa política para a minha camioneta, tão baixa que terminou aliás no Tribunal. Não tenho hoje a mais pequena ambição para além de ajudar sempre que isso pareça estar ao meu alcance - o que aliás tenho feito e continuo a fazer sempre que isso se me afigure possível.
Actualmente, mais do que o Belenenses "que herdei", interessa-me o Belenenses que "vou legar" aos meus filhos. E nesse quadro, parece que não sendo bastantes as forças de bloqueio que sopram do exterior, são os próprios belenenses os que primeiro entendem colocar pedras na engrenagem. Confesso que a perfeita consciência dessa percepção me custa. E custa-me desde logo porque tenho uma filha com cinco anos - quase seis - já plena herdeira da doença azul, que diariamente tem que enfrentar (diga-se que com grande merecimento, boa capacidade de resposta e sem papas na língua) uma turma alfacinha de lagartos e lampiões cheios do respectivo "merchandising" vendido em cada rua de Lisboa e me pergunta por que raio nada do Belenenses se vende em lado nenhum sem que eu lhe saiba ainda responder... - que mentir-lhe não é comigo! A mesma miúda que saiu do Estádio Nacional a choramingar, vai para uns meses, porque nunca lhe ocorreu que fosse possível perder com os lagartos. E, em paralelo, penso para com os meus botões que já viu o Belenenses numa final da Taça - feito que eu demorei mais de quinze anos a presenciar - e essa é que é essa!
Isto para constatar que embora cada vez mais pequenos, embora tenhamos a vida cada vez mais difícil, parece que somos sempre suficicientes para, ao invés de darmos as mãos remando num mesmo sentido (aquele que afinal de contas - caramba! - nos interessa a todos), criar ou acentuar a divisão. Com efeito, minimizada a ambição adolescente, vejo hoje com a clareza que algum distanciamento proporciona - embora com a mesma paixão clubista - que este estado de constante guerra civil que se vive para os lados do Restelo aproveita apenas aos nossos rivais.
Tudo o que antecede para rematar o seguinte: depois de em Abril uma data deles terem dado uma maioria (quase) esmagadora a Cabral Ferreira, os associados do Belenenses - pouco mais de uma centena, no caso concreto - chumbaram em Assembleia Geral nova proposta de Orçamento e aumento de quotização. Nada que constitua portanto novidade de maior, na medida em que a nega começa a ser um lamentável 'must' da vida do Clube. Eu, no lugar do Cabral Ferreira, para o ano não perdia cinco minutos que fosse a desenhar os quadradinhos...