domingo, 24 de fevereiro de 2008

Boa noite, sou o sistema

O meu filho mais velho acaba de fazer um desenho do sr. Rui Silva, em plena estrada de regresso a Vila Real, com um furo num pneu... Ontem, à saída do Restelo, ele mesmo citava de cor um desabafo do presidente do Vitória de Guimarães, curiosamente pronunciado após um jogo contra outra equipa madeirense: "Isto não não é futebol, isto não é desporto, isto é uma palhaçada". Até às crianças não escapa a vergonha do futebol português, traduzida em arbitragens cirúrgicas, ou a favor de clubes que mexem bem os cordelinhos do sistema, ou para prejudicar clubes em alta, eventualmente capazes de se introduzirem nos "lugares cativos" dos três clubes do costume.
É impossível abordar o jogo de ontem sem focar a agressão de Bruno a Marco Ferreira, passada impune (e foi o baixote que concretizou o penalty e fez os passes para os dois restantes golos madeirenses); o penalty-fantasma, que só por má fé pode ser assinalado, tal a forma como Kanú se "desequilibrou" ainda antes do contacto com Costinha, contacto de resto forçado por aquele; e sem focar um sem número de lances mal assinalados e uma exasperante condescendência para com o anti-jogo dos visitantes.
Tal como não se pode deixar de realçar mais um golo de Weldon, pleno de oportunidade e inteligência; uma noite desastrada de Hugo Alcântara, que precipitou o desastre; uma má leitura de Jesus, que queimou uma substituição ao fazer entrar Devic quando devia ter apostado em João Paulo face à necessidade que se antevia de ter de vir a render um esgotado Roncatto; em vez disso apostou no pesadão Jankauskas, um jogador bom no jogo aéreo mas demasiado lento e complicativo para ir buscar jogo atrás e seguir com a bola nos pés.
O estreante Júlio César mostrou óptimos reflexos e, infelizmente, má leitura nas saídas, que ajudaram aos segundo e terceiro golos do Marítimo (e fazendo lembrar situação semelhante ao serviço do Botafogo). O maior destaque do lado azul pertence a Rúben, que fez um jogo de entrega e sacrifício digno de um grande profissional.
Pelas 20 horas de ontem tinha-se cumprido mais uma etapa na degradação contínua do futebol português. Quando se aborda a questão das fracas assistências aos jogos fala-se no preço dos bilhetes, da qualidade das partidas (que até tem melhorado com os anos, ao contrário do se que diz) e de outros factores, reais ou imaginários; mas os adeptos portugueses não são parvos e percebem perfeitamente que a credibilidade do desporto-rei está nas últimas. Tudo o resto é conversa.